A Geometria do Poder e a Largada de Vicentinho Jr. no Tocantins

A política, meus caros, é a arte de organizar o otimismo. E na última sexta-feira, no Tocantins, o deputado Vicentinho Jr. (PP) ofereceu um verdadeiro banquete de otimismo aos seus. Lançou-se pré-candidato ao Senado e, como um bom anfitrião do poder, fez questão de exibir seus convidados. E que convidados.

A política é feita de símbolos. E o que simboliza ter, em seu palanque de largada, a senadora Dorinha Seabra e o vice-governador Laurez Moreira? Ambos, notem bem, pré-candidatos ao governo. Não é um mero aperto de mãos. É um recado cifrado ao Palácio Araguaia e aos demais competidores. Sinaliza que o deputado do PP não é um nome a ser encaixado, mas uma força com a qual se deve compor.

E a demonstração de força não parou nos nomes de proa. Havia a infantaria, o poder real que se manifesta no varejo: um contingente de 40 prefeitos. Em política, um prefeito não é apenas um voto; é um multiplicador, um cabo eleitoral com legitimidade local. Ignorar essa aritmética é um erro primário.

Mas a política tocantinense, como um bom romance russo, é cheia de subtextos e relações pregressas. Vicentinho Jr. não é um aventureiro. Até o ano passado, despachava como secretário do governo de Wanderlei Barbosa, a quem, aliás, apoiou em 2022. Uma aliança que se desfez, ou melhor, se reconfigurou. A saída do governo para apoiar Eduardo Siqueira na capital foi, dizem, um movimento calculado, sem queimar pontes. Pacta sunt servanda.

Essa relação oblíqua com o Palácio é o pulo do gato. Não há aliança, mas também não há terra arrasada. É a neutralidade estratégica, que permite que o governo não o veja como inimigo, e que ele não precise se definir como oposição. É a política em seu estado mais puro: a gestão de interesses.

O busílis da questão, agora, é outro. Como manter coesa essa frente ampla, que une de um pragmático Laurez a uma articulada Dorinha, passando pelo grupo de Siqueira Campos? A política é como a física: forças opostas, quando mal administradas, geram repulsão. A manutenção desses apoios dependerá de uma engenharia delicada, de um discurso que não espante os moderados.

E aqui reside o calcanhar de Aquiles do pré-candidato. Vicentinho, por vezes, se permite incursões em um terreno mais ideológico, mais aguerrido, dando munição para quem deseja pintá-lo como um radical. O desafio será o de falar para a sua base sem alienar os aliados que precisa para vencer. É a quadratura do círculo.

A fotografia do momento, contudo, é inegável. Se a eleição fosse amanhã, o deputado do PP teria um passaporte carimbado para uma das duas vagas. A outra? Seria disputada a tapas, no campo aberto da imprevisibilidade.

O jogo está posto. E, no Tocantins, ele raramente é para principiantes.

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