Tocantins lidera alta nas mortes no trânsito do Brasil; acidentes com motos disparam e viram crise de saúde pública
O Tocantins aparece entre os estados com os piores índices de mortes no trânsito em todo o Brasil, de acordo com o Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira (13) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O principal motivo: o aumento alarmante de acidentes fatais envolvendo motocicletas.
O levantamento aponta que, só em 2023, o país registrou 34,8 mil mortes no trânsito — número que se aproxima dos homicídios por arma de fogo, e que, segundo o estudo, configura um problema de saúde pública de primeira importância.
O Tocantins, junto com Mato Grosso e Piauí, figura no topo do ranking proporcional de estados com mais vítimas fatais no trânsito. No caso tocantinense, o dado revela uma realidade preocupante: a combinação de frota crescente de motocicletas, infraestrutura precária e ausência de políticas públicas eficientes para segurança viária.
“O sistema de transporte no Brasil apresenta uma elevada taxa de mortalidade, que se aproxima do número de mortes violentas intencionais”, alerta o relatório.
Motos são protagonistas da tragédia
Quatro em cada dez mortes no trânsito no Brasil envolvem motocicletas. O Ipea destaca que os motociclistas são, hoje, as maiores vítimas dos sinistros viários — cenário que se agravou nos últimos anos, especialmente com o crescimento do uso de motos para entregas e transporte por aplicativo.
Entre 2018 e 2023, o Tocantins registrou aumento expressivo na taxa de mortalidade no trânsito, tendência que também foi observada em outros 17 estados. Enquanto isso, unidades como o Rio Grande do Norte e o Ceará conseguiram reduzir seus índices.
Segundo o estudo, o aumento de vítimas no Tocantins se alinha ao padrão observado em estados com menor densidade populacional, mas com crescimento rápido da frota e pouco investimento em fiscalização e infraestrutura adequada.
Jovens e trabalhadores informais entre os mais atingidos
Boa parte das vítimas de acidentes com motos no Tocantins são jovens, em idade economicamente ativa, o que acentua os impactos sociais da crise. Muitos deles atuam no setor informal, em serviços de entrega ou mototáxi — profissões que cresceram com a expansão do e-commerce e dos aplicativos.
Para o pesquisador Erivelton Pires Guedes, do Ipea, a redução da velocidade e ações coordenadas entre prefeituras e governos estaduais são medidas fundamentais. “Pode ser impopular, mas salva vidas”, destacou.
Década de metas frustradas
O Atlas lembra que, mesmo após a “Década de Ação pela Segurança no Trânsito” da ONU (2010-2020), o Brasil contrariou a tendência global de redução nas mortes. Enquanto o mundo reduziu em média 5% os óbitos por acidentes, o Brasil aumentou em 2,3%. Só entre 2010 e 2019, foram mais de 392 mil mortos nas vias do país.
O estudo não contempla os dados de 2024 e 2025, mas análises preliminares indicam que a curva segue ascendente, inclusive no Tocantins.