Justiça converte prisão de influenciadora investigada por jogos ilegais em domiciliar
Decisão leva em conta que a investigada, presa no sábado (4), é mãe de duas crianças; segundo a defesa, ela colaborou durante toda a investigação.
A influenciadora digital Ana Paula Cerqueira Carvalho teve a prisão preventiva convertida em domiciliar, em Porto Nacional, no interior do Tocantins. A decisão foi proferida nesta segunda-feira (6) e considerou que a investigada é mãe de filhos menores de 12 anos e não apresenta indícios de violência ou grave ameaça nos fatos sob apuração.
Ana Paula foi presa no sábado (4), após a Polícia Civil constatar que, mesmo após ser alvo de uma operação em setembro, ela continuava ocultando patrimônio supostamente obtido com recursos ilícitos. Ela e o ex-marido, que não teve o nome divulgado, são investigados por lavagem de dinheiro e pela divulgação de plataformas ilegais de jogos de azar nas redes sociais.
Durante a operação, foram apreendidos bens e bloqueados valores de até R$ 9,5 milhões, conforme determinação judicial. A influenciadora chegou a ser levada para a Unidade Prisional Feminina de Palmas, onde ficou até a conversão da pena, ocorrida dois dias depois.
A defesa afirmou que a decisão “reconhece que a medida preventiva era desnecessária” e que a influenciadora tem colaborado com as investigações.
“Durante toda a investigação, Ana Paula demonstrou postura cooperativa e transparente. Compareceu espontaneamente à Delegacia, prestou esclarecimentos, apresentou documentos e colocou-se à disposição das autoridades competentes. Desde o início, a defesa enfatizou que não há qualquer tentativa de obstrução da Justiça”, afirma a nota.
Segundo o Tribunal de Justiça do Tocantins, o processo corre em sigilo.
Operação e investigações
A Polícia Civil informou que a influenciadora usava as redes sociais para enganar seguidores, promovendo plataformas de apostas irregulares e simulando ganhos fictícios para atrair novos usuários.
A investigação teve início em 2024 e, em setembro de 2025, foram cumpridos três mandados de busca e apreensão nas cidades de Porto Nacional e Brejinho de Nazaré.
O delegado Wagner Rayelly, responsável pelo caso, alertou para os riscos desse tipo de prática.
“Os seguidores de influenciadores que divulgam essas plataformas acabam sendo suas maiores vítimas, uma vez que assistem a simulações de grandes ganhos e acabam fazendo as apostas acreditando que terão resultados semelhantes. Não é raro que acabem perdendo grandes quantias”, explicou.
O delegado ressaltou ainda que esse tipo de crime é relativamente novo, mas já vem sendo monitorado pela Polícia Civil do Tocantins.
Com informações do G1 Tocantins.
Íntegra da nota da defesa de Ana Paula Cerqueira Carvalho:
A defesa de Ana Paula Cerqueira Carvalho, cirurgiã-dentista e servidora pública do município de Porto Nacional, recebeu com serenidade e senso de justiça a decisão proferida neste domingo (05/10) pelo Juiz de Direito Dr. Elias Rodrigues dos Santos, que, em audiência de custódia, substituiu a prisão preventiva pela prisão domiciliar.
A medida atende aos parâmetros legais do art. 318, V, do Código de Processo Penal e ao entendimento consolidado do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça sobre a proteção integral das mães com filhos menores de doze anos.
A decisão reconhece que Ana Paula é mãe de duas crianças em tenra idade, sem antecedentes, com profissão lícita, residência fixa e fortes vínculos comunitários, não havendo qualquer indício de violência ou grave ameaça nos fatos sob investigação. A Justiça Tocantinense, com sensibilidade e firmeza, soube conciliar a legalidade da persecução penal com a proteção da dignidade humana e da estrutura familiar, aplicando o direito de forma equilibrada, técnica e humanitária.
Durante toda a investigação, Ana Paula demonstrou postura cooperativa e transparente. Compareceu espontaneamente à Delegacia, prestou esclarecimentos, apresentou documentos e colocou-se à disposição das autoridades competentes. Desde o início, a defesa enfatizou que não há qualquer tentativa de obstrução da Justiça, mas sim o desejo de esclarecer os fatos com serenidade e respeito institucional.
Importa destacar que a própria decisão judicial registrou o comprometimento de Ana Paula em colaborar com a persecução penal, inclusive com a entrega voluntária do veículo objeto de sequestro, reforçando a confiança da defesa na boa-fé e no senso de responsabilidade da requerente. Essa conduta espontânea confirma o que a defesa sempre afirmou: Ana Paula não representa risco à instrução processual nem à aplicação da lei penal.
A defesa técnica, representada pelos advogados Wilibrando Bruno Albuquerque de Araújo (OAB/DF 66.470) e Jordana de Sousa Torres (OAB/PI 20.689-A), manifesta público reconhecimento à atuação célere, ponderada e sensível do Poder Judiciário Tocantinense, que aplicou corretamente a lei à luz da Constituição e da jurisprudência dos Tribunais Superiores. A decisão, ao equilibrar rigor técnico e compreensão humanitária, reafirma a confiança da advocacia nas instituições de Justiça e no Estado Democrático de Direito.
A defesa reafirma, ainda, seu comprometimento em continuar colaborando com a autoridade policial e com o Ministério Público, sempre pautada pela verdade, pela boa-fé e pela confiança nas vias legais. Ana Paula seguirá cumprindo as condições impostas pelo juízo, contribuindo com o processo e preservando a estabilidade e o bem-estar de suas filhas.
Por fim, a defesa agradece à imprensa pelo respeito à intimidade da família e reitera que a concessão da prisão domiciliar não significa privilégio, mas a concretização da justiça humanizada, que reconhece que nenhuma investigação deve afastar uma mãe de suas crianças quando o direito e a proporcionalidade apontam para medidas alternativas.

