Inquérito aponta que Karol Digital mentia a seguidores sobre ganhos em apostas e usava 70 blogueiros para divulgar plataformas
Mensagens interceptadas mostram que, em negociação específica de 2022, a influenciadora cobrou R$ 30 mil por parceria; presa em 22 de agosto, investigação atribui a ela movimentação de R$ 217 milhões e “blindagem” de patrimônio. Defesa nega crimes e recorre ao STF
ARAGUAÍNA — O inquérito da Polícia Civil sobre a influenciadora Maria Karollyny Campos Ferreira, a Karol Digital, indica que ela mentia ao público ao afirmar que não tinha contratos com plataformas de jogos e que seus ganhos vinham apenas das próprias apostas. Documentos do procedimento revelam negociações diretas com casas de apostas e descrevem a existência de uma rede de divulgação com “70 blogueiros” para ampliar o alcance das campanhas.
Em mensagens interceptadas em 2022, Karol explicou a estratégia comercial e, naquele caso específico, cobrou R$ 30 mil para fechar uma parceria e promover a plataforma. Nos diálogos, ela afirma que não tornava público o vínculo publicitário para manter a aparência de ganhos próprios: ao receber o depósito do contrato, prometeria publicar vídeos como se estivesse “sacando” lucros de apostas. O inquérito também registra que, em ocasiões distintas, atribuía às apostas de uma plataforma ganhos vinculados a outra, embaralhando a origem do dinheiro apresentado nas redes.
“Tenho uma equipe de 70 blogueiros que divulgam todas as plataformas que indico. […] Eu contrato blogueiras para divulgar para mim e conseguir capturar mais jogadores”, escreveu em conversa citada pelos investigadores.
Prisão, desdobramentos e quem mais pode virar alvo
Karol foi presa em 22 de agosto de 2025, junto com o namorado Dhemerson Rezende Costa, na Operação FRAUS, conduzida pela DRACCO e pela Deic/Palmas, com apoio do Laboratório de Operações Cibernéticas do Ministério da Justiça e de equipes da Adapec. O casal é investigado por associação criminosa, lavagem de dinheiro e crime contra a economia popular.
Em conteúdo já divulgado, a TV Anhanguera noticiou que mais de 70 blogueiros podem ser investigados por colaboração nas divulgações.
O processo tramita em segredo de justiça. Em 1º de setembro, o Juiz Carlos Roberto de Afonso Dutra, da 2ª Vara Criminal de Araguaína, em audiência de custódia, manteve a influenciadora presa. Karol foi transferida para a Unidade Penal Feminina de Ananás.
Apreensões e patrimônio sob bloqueio
Segundo a Polícia Civil, entre janeiro de 2019 e outubro de 2024 Karol movimentou mais de R$ 217 milhões em contas e empresas. Na fase ostensiva, foram apreendidos sete veículos de luxo, avaliados em aproximadamente R$ 5,528 milhões — entre eles um Porsche (R$ 979 mil), uma RAM 3500 (R$ 475 mil) e uma McLaren Artura (R$ 3,1 milhões).
A Justiça também determinou o sequestro de sete imóveis (seis em Araguaína e um em Babaçulândia) e de uma fazenda em Palmeirante, avaliada em R$ 8 milhões, com 248 bovinos e cavalos de raça. O inquérito descreve transferências de bens para três empresas vinculadas à influenciadora, o que os investigadores classificam como “blindagem” ou “ocultação” patrimonial.
O que diz a defesa
Em entrevista e em nota à imprensa, a defesa nega qualquer prática ilícita, afirma que a investigação contém ilegalidades e que a prisão é “desumana” devido ao estado de saúde de Karol. Os advogados informaram ter recorrido ao STF e sustentam que “tudo será esclarecido”.