Relatório aponta que DNIT sabia do mau estado de conservação da ponte que desabou entre TO e MA
De acordo com informações obtidas pela Folha de S.Paulo, relatórios do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) já classificavam a Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que desabou no último domingo (22) entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), como uma estrutura em estado “ruim” de conservação. O colapso deixou ao menos três mortos e 15 pessoas seguem desaparecidas.
Conforme dados de manutenção rodoviária atualizados até julho de 2019, a ponte estava na categoria “amarela” com “nota 2”, indicando problemas estruturais ou funcionais que exigiam atenção prioritária. O índice varia de 1 (estado mais crítico) a 5 (melhor condição).
Essa classificação sinaliza possíveis danos, como fissuras, desgaste de juntas, falhas em pilares e fundações ou outros problemas que comprometem a segurança da travessia. A Ponte JK fazia parte de um levantamento do Dnit que avaliou 121 pontes federais no Tocantins, sendo que dez estavam no mesmo estado “ruim”.
Denúncias sobre precariedade da estrutura
Vídeos publicados por moradores e políticos da região já denunciavam as condições da ponte antes do acidente. O vereador Elias Cabral Junior (Republicanos), de Aguiarnópolis, gravou um vídeo no local, poucos instantes antes do colapso, relatando a situação da travessia.
“Essa ponte já tem mais de 60 anos de existência e, como vocês podem ver através das redes sociais, do noticiário… tem mostrado bastante que a ponte já não está mais suportando o grande fluxo de veículos pesados que passam por aqui”, afirmou o vereador.
Entre os veículos que caíram no rio estavam dois caminhões-tanque carregados com ácido sulfúrico e um terceiro com defensivos agrícolas. A Defesa Civil alertou os moradores sobre o risco de intoxicação, queimaduras e outros problemas de saúde devido à contaminação do rio Tocantins.
Impactos no abastecimento e medidas emergenciais
A possibilidade de contaminação do rio levou à interrupção parcial do abastecimento de água em Imperatriz (MA), a 125 km de Estreito, cidade com 273 mil habitantes. Órgãos ambientais estão monitorando a qualidade da água enquanto as buscas por desaparecidos continuam.
Nas proximidades da ponte estão localizadas a Ponte Ferroviária de Estreito, que integra a Ferrovia Norte-Sul, e a Usina Hidrelétrica de Estreito.
Contratos e licitação fracassada
Por meio de nota enviada à Folha, o Dnit informou que a ponte fazia parte de um contrato de manutenção, no valor de R$ 3,5 milhões, vigente entre novembro de 2021 e novembro de 2023, dentro do Programa de Manutenção e Reabilitação de Estruturas (PROARTE). Serviços como reparos em vigas, lajes e pilares teriam sido realizados no período.
Ainda segundo o órgão, um contrato de manutenção da BR-226/TO, vigente até 2026, prevê a continuidade de obras para melhorar a trafegabilidade e segurança na rodovia.
Além disso, em maio de 2024, foi lançado um edital de R$ 13 milhões para a reabilitação da ponte. No entanto, o processo licitatório foi fracassado, sem que nenhuma empresa apresentasse proposta vencedora.
Sindicância para apurar responsabilidades
Ao ser informado sobre os relatórios de inspeção, o ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou à Folha que o governo já iniciou uma sindicância para apurar as causas e as responsabilidades pelo colapso.
A Ponte Juscelino Kubitschek era uma das principais rotas de ligação entre os estados do Maranhão e Tocantins, sendo crucial para o tráfego interestadual, além de fazer parte da BR-226 e da rota da Transamazônica (BR-230).