Afastamento de Wanderlei Barbosa e da primeira-dama completa um mês; investigação apura suposto esquema em cestas básicas

Governador e Karynne Sotero foram afastados pelo STJ durante a Operação Fames-19; defesa aguarda decisão do STF para retorno ao cargo

O afastamento do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), e da primeira-dama, Karynne Sotero, completou um mês nesta sexta-feira (3). Eles foram retirados do cargo pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no dia 3 de setembro, durante a segunda fase da Operação Fames-19, que investiga um suposto esquema de desvio de recursos públicos em contratos de cestas básicas na pandemia de Covid-19. Desde então, o vice-governador Laurez Moreira (PSD) assumiu a chefia do Executivo.

A defesa de Karynne afirmou que “está acompanhando o governador Wanderlei Barbosa nas discussões com os advogados e aguardando a decisão para restabelecer a normalidade jurídica, política e democrática no estado do Tocantins, com o retorno do eleito pelo povo”. A defesa de Wanderlei Barbosa não enviou resposta até a última atualização desta reportagem.

O prazo de afastamento é de 180 dias. Em setembro, Wanderlei entrou com pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF), mas o recurso foi inicialmente recusado por falta de documentação. O caso continua em análise.

Investigações da Fames-19

A Operação Fames-19 apura crimes de frustração de licitação, peculato, corrupção passiva, lavagem de capitais e organização criminosa. À época dos fatos investigados, Wanderlei Barbosa era responsável pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas), que geria recursos destinados a auxiliar a população na pandemia.

De acordo com a Polícia Federal, empresas contratadas para fornecer cestas básicas teriam sido criadas pouco antes da licitação ou alterado suas atividades comerciais. Há indícios de que algumas simularam a montagem dos kits, usando cestas emprestadas para enganar fiscais da secretaria. Uma lista com 1.500 nomes e CPFs também teria sido forjada para prestar contas.

Segundo a investigação, o esquema atuava em quatro núcleos: agentes políticos — que incluíam o governador afastado e a primeira-dama —, servidores públicos que direcionavam licitações, empresários laranjas e operadores da lavagem de dinheiro.

Dança das cadeiras no governo

No mesmo dia do afastamento, Laurez Moreira exonerou todos os secretários do primeiro escalão, atendendo recomendação do ministro Mauro Campbell, relator do caso no STJ. Durante setembro, ele nomeou novos gestores, mas três acabaram sendo reconduzidos aos cargos.

Troca de acusações

Nas redes sociais, Wanderlei alegou perseguição política:

“Derrotei pessoas que não aceitaram e se juntaram ao vice-governador Laurez. Durante todo esse tempo eu sofri muito, por isso houve o meu afastamento do Laurez, porque eu sabia o que ele estava fazendo. Eu tinha informações diárias dele em Brasília, tentando o tempo inteiro me afastar do mandato.”

Laurez rebateu:

“O afastamento dele é questão da Justiça, e é um problema que tem que resolver com a Justiça, não comigo, né? Quem sou eu para tramar contra alguém ou fazer alguma coisa. Ele tem que responder pelos atos que praticou.”

Após assumir, Laurez suspendeu contrato de táxi aéreo usado por Wanderlei, alegando que viagens do governador devem ser para buscar recursos, “mas não sair com seus amigos para fazer viagens internacionais”.

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